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A Re-Descoberta de Sollertinsky: Um Movimento Artístico e Crítico de Contra Tendência

 Vinicius Fernandes do Carmo

O vigente vem como exposto do que se tratará, sob glosa, em o XV I CED (Colóquio de Estudos Discursivos), organizado pela Prof.ª Dra. Luciane de Paula e regido pelo pesquisador Dr. Samuel Manzoni, por uma coligação entre a Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho” (UNESP) e a Universidade de Zurique, o qual se nomeara como “Re-Discovery Sollertinsky”, aos 15 (quinze) dias de julho do ano de 2021 (dois mil e vinte e um), transmitido pela plataforma YouTube e acessível pelo link https://youtu.be/dT8o5WfSgr4.

Partindo de um ponto que lhe aproxima como pesquisador, Samuel Manzoni traz à baila perspectivas da musicologia ocidental enquanto importantíssimas para a reflexão comuta de autores outros que aqueles prestigiosamente quistos. Tendencialmente, na Europa, onde vive, fala-se sempre negativamente daquilo que foi e ainda se reflete hoje como a União Soviética, uma vez abordada de forma generalizada; tende-se a definir por pontos fabulares ou exotéricos o que fora, principalmente, a arte produzida no dado território.

Segundo Mazoni, tal abordagem configura-se como uma análise crítica errônea, uma vez que descarta diversos fatores consideráveis. Dessa forma, o pesquisador serve-se, por contra tendência, de autores como Šostakovič e Sollertinsky, pois é, justamente, no interior desses que se encontram aspectos peculiares da cultura soviética nunca antes tão exploradas, mas de grande teor reflexivo para as teorias musicológicas e de quebra paradigmática de um estereótipo ainda muito disseminado na análise crítica perspectivamente ocidental.

A partir dessa linha, ocupa-se por 13 anos de avaliar, ainda pelos textos originais aos quais teve acesso, a vida e obra de Sollertinsky, estruturando um volume onde são reunidos uma dezena de seus principais ensaios para o teor da discussão. No interior do mesmo, procura oferecer um quadro sobre a figura do compositor que, por mais quer morto cedo, aos 41 anos, criara, além de uma vasta composição musical, intervenções críticas diversas através da escrita onde conseguira reunir todas as artes, principalmente a música; cerca de 256 ensaios.

Portanto, com uma vasta produção de tamanho a qual nenhum pesquisador sonharia sequer em compor, a importância do autor para a compreensão das produções e, logo, mundo soviético outro àquele generalizado pelo pensamento tendencioso ocidental é inegável. Na realidade, é justamente ao analisar suas diversas faces que é possível perceber suas relações com outras figuras que lhe comporiam como aquilo que foi e é. Conforme dado, estabelece, em seu eixo composicional, uma forte relação com Šostakovič e, em aquele crítico, Bakhtin.

O ponto de encontro entre tais pensadores soviéticos traz um fator peculiar à análise crítica das diversas produções. A preocupação musical que apresenta Sollertinsky, por exemplo, por não somente uma perspectiva sígnica partida do nível verbal, mas principalmente por aquele sinfônico, que se manifesta pelo arranjo harmônico dos sons produzidos pelos instrumentos, demonstra, além de uma forte relação com os pensamentos bakhtinianos, um grande avanço nos estudos discursivos, principalmente aquele realizado através da música.

Buscando definir aquilo que se tratava de um eixo somente sinfônico e, por extensão, acústico não verbal (não acompanhada de letra cantada por voz), o compositor consegue isolar seu objeto para uma mais precisa análise, o que mais avante, em contato com as mais diversas manifestações artísticas, repetem-se por forma. Sua abordagem, assim, também não foge daquilo que fora a intenção soviética da época: recolher toda cultura passada e tradicional e tentar superá-la por melhor, antes que se embrione em algo culturalmente irreversível.

A partir dos pontos em comum entre tais pensadores críticos soviéticos, Sollertinsky demonstra grande interesse na repartição circular que faz Bakhtin, mas, por mais que saindo do círculo, carrega toda sua influência e reparte, ainda preocupado com as noções de compreensão dos dados níveis supracitados, sua metodologia em eixos que partem de um ponto muito comum àquele inspirado pela linha bakhtiniana. Dessa forma, é carregada uma grande importância de estudo comuto entre tais pensadores, justamente, em percepção de um método dialético-dialógico que os movimenta através dessas faces.

Criando uma tripartição por fases, Sollertinsky tenta compreender, sob a perspectiva de todas, os diversos extratos manifestados pelas produções as quais estudava. Sai de uma dicotômica primeira fase entre o que se traz como o “épico” (a narração, no caso, heroica, centralizada em uma tradição, principalmente lendária) e o “cognitivo” (como se é entendido a dada face narrativa). Desse ponto, vai para um segundo onde se aborda, já, uma preocupação mais externa à produção: dada uma entre os próprios ditos “ética” (movimentos, principalmente, sociais que interferem na natureza não só própria da vigente, mas comum entre as demais; morais e dialógicas) e “percepção” (movimento externo, mas, neste momento, pessoal daqueles presos pela consciência ditada pela ética).

Todos os pontos abordados, junto àqueles históricos, são riquíssimos para uma compreensão não somente das noções apresentadas por Sollertinsky, mas, como visto, todo um pensamento soviético sincrônico que, de grande modo, influencia toda a diacronia de produção artística definida por além de tais limites. Assim, dar-se-ão reflexões Marxistas, Shakespearianas, Akmimovista, de Šostakovič, de Bakhtin ou mesmo de Dostoievski, como mesmo aponta Manzoni em toda sua mais aplicada fala.

Preocupações que refletem até hoje pontos essenciais e previstos por tais teóricos: sinfonia que significa, percepta, narra e suporta toda uma carga externa também social tanto quanto outras modalidades artísticas e, inclusive, verbal; uma manifestação verbivocovisual. Aliás, os pontos em comuns entre tais autores soviéticos não morrem no interior da dada teoria. Na realidade, circula em todo seu contexto: a forma que são tratados tais autores (por uma perspectiva predominantemente ocidental) demonstra não só um tratamento errôneo em sua abordagem crítica, mas uma estrutura de preconceito estabelecida sobre o que foi e o que ainda se reflete hoje a dada União Soviética e, por extensão, suas produções.

Portanto, cabendo a nós, não só os estudiosos, mas também os apreciadores de dadas manifestações artísticas, fugir, através de uma contra tendência, dos pontos de vistas que nos impedem de descobrir mundos novos acerca de pontos jamais pensados, mas, quando finalmente, enriquecedores à teoria e à própria produção. Ademais, ao próprio interno dessas é possível percebermos a dialogia entre as diversas vozes e, assim suas influências que, por mais que negadas, vêm-nos em muita importância de aprofundamento.

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