
Pesquisas - Maria da Penha Casado Alves (UFRN)
Gêneros discursivos, linguagens e processos de hibridização em perspectiva dialógica
(2019-2020)
A linguagem como constitutiva da natureza humana sempre esteve no foco dos estudos do Círculo de Mikhail Bakhtin, como ficou conhecido o grupo de estudiosos de diferentes áreas que tinham como centralidade de pesquisas e de reflexões a linguagem e o homem em perspectiva histórica e dialógica. Nesse sentido, a linguagem é compreendida por esse círculo como construção histórica e como constitutiva/constituinte do homem nas diferentes esferas da atividade humana. Tal concepção, que considera a historicidade, os lugares, os eventos como singulares é pertinente para que se reflita e se construa conhecimento sobre os diferentes eventos discursivos materializados em gêneros das mais diferentes configurações temática, estilística e composicional. O presente projeto se propõe a construir conhecimento sistematizado sobre gêneros discursivos de diferentes configurações (BAKHTIN, 2003) que evidenciam processos de hibridização de linguagens (CANCLINI, 2013) e de semioses (verbais, verbo-visuais, corporais, imagéticas) e que são produzidos/circulam nas mais variadas esferas da atividade humana (escolar, publicitária, acadêmica, artística, sindical, cotidiana). Contrariando uma visão de língua como estrutura e sistema abstrato, Bakhtin faz opção por uma visão de língua não como um sistema de categorias gramaticais abstratas; mas como língua ideologicamente preenchida, língua enquanto cosmovisão e até como uma opinião concreta que assegura um maximum de compreensão mútua em todos os campos da vida ideológica (2015, p. 40). Por isso, a língua única deixa visível as forças de unificação verboideológica concreta e da centralização que ocorre numa relação indissolúvel com os processos de centralização sociopolítica e cultural (BAKHTIN, 2015, p. 40). Nessa direção, com a fundamentação teórica advinda de Bakhtin e o Círculo sobre linguagem, enunciado, gêneros discursivos intercalados e híbridos, relações dialógicas e dos estudos culturais (CANCLINI, HALL, BARBERO) sobre cultura, culturas híbridas, identidades, coleção e o ato de descolecionar e de cultura de convergência (JENKINS) o projeto se volta para a análise dos modos de organização de diferentes gêneros discursivos tendo em vista um projeto de dizer que configura sua arquitetônica e seu direcionamento.
Comunidades de leitores: outras trajetórias à revelia do cânone
(2019-2020)
O projeto investiga práticas leitoras em comunidades de leitores organizadas nas escolas ou fora dos muros escolares na cidade de Natal. Tais comunidades de leitores se organizam em torno de obras situadas fora do cânone literário ou do que é considerado a "boa literatura" e se colocam como um cronotopo específico onde se constroem outras trajetórias de leituras e outras sociabilidades. O projeto considera concepções atuais sobre jovens, cultura juvenil e sobre práticas leitoras que se constituem à revelia da escola, sagas ou livros em série, fanfiction e a cultura da conexão que caracteriza processos atuais de produção e de consumo de produtos/obras na contemporaneidade.
As práticas leitoras na escola pública: sujeitos, processos, trajetórias
(2019-2020)
O plano de trabalho se alinha com ações já em desenvolvimento na Escola Estadual Francisco Ivo onde os alunos já se organizam em comunidade de leitores e constroem uma trajetória leitora para além do socialmente valorizado como leitura "boa" ou "adequada". A leitura de objetos estéticos à revelia do cânone se coloca como foco da investigação que terá o chão da escola de ensino médio como locus privilegiado dessas práticas e desses trajetos de leitura.