
Pesquisas - Luciane de Paula


Pesquisa do Triênio - 2017/2019
Verbivocovisualidade: uma abordagem bakhtiniana tridimensional da linguagem
Luciane de Paula, 2017
Os estudos bakhtinianos ou, como tem sido cunhado no Brasil, a Análise Dialógica do Discurso (ADD), voltada à interação, calca-se na relação entre enunciados e sujeitos situados cronotopicamente. Os enunciados expressam vozes sociais refletidas e refratadas, no embate entre infra e superestrutura, nos mais variados gêneros de discurso. O foco dos estudos da filosofia da linguagem bakhtiniana se volta ao enunciado verbal (em particular, o romanesco), como é explicitado em muitas de suas obras. Todavia, diversos termos, que constituem as concepções teóricas de linguagem e enunciado, advêm de outros campos e são abordados de maneira metaforizada pelos estudiosos da área, ainda que tais conceitos também possam ser tomados como pistas que abrem possibilidades de pesquisa teórico-analítica para universos musicais, imagéticos e sincréticos os mais diversos, orais e/ou escritos. A proposta deste projeto, de maneira ampla, é refletir sobre a concepção de linguagem do Círculo russo, entendida de maneira tridimensional. As dimensões se voltam à verbalidade (oralidade e escrita), à vocalidade (matéria acústica – sonoridade da própria língua – entoação; e musicalidade) e à visualidade (referente imagético), todas, presentes em qualquer gênero, de maneira mais ou menos explorada/enfatizada, a depender da arquitetônica de cada enunciado, estudado em sua unicidade e em sua genericidade relativamente estável. De maneira específica, este projeto se propõe a refletir acerca da pertinência da ADD como aporte teórico-analítico de enunciados concretizados em materialidades verbo-voco-visuais, especialmente os sincréticos contemporâneos, dos mais variados gêneros. O objetivo é discutir a especificidade teórico-metodológica da abordagem bakhtiniana (entendida como tridimensional) especialmente ao que tange à análise de discursos estéticos e midiáticos constituídos por semioses sincréticas e como esses enunciados podem (e devem) ser abordados, inclusive na escola. A justificativa se pauta na contribuição para os estudos da área. Acredita-se que os resultados contribuirão para uma abordagem contemporânea dos estudos bakhtinianos. Metodologicamente, este projeto se calca na dialética-dialógica e utiliza o cotejo como elemento crucial para o exame dos enunciados estudados de maneira analítico-interpretativa. A pesquisa é bibliográfica e de cunho qualitativo. A hipótese é a de que a noção de linguagem do Círculo é tridimensional e a de que a verbivocovisualidade caracteriza suas dimensões. Espera-se, com as análises de enunciados verbo-voco-visuais, cada vez mais presentes na contemporaneidade, nas mais diferentes esferas, comprovar a hipótese levantada.
* O projeto referente ao triênio 2017/2019 é uma continuidade do projeto anterior (triênio 2014/2019), por isso a semelhança da proposta, que foi apenas adensada.

Pesquisa do Triênio - 2014/2016
Análise Dialógica de Discursos verbo-voco-visuais
Luciane de Paula, 2014
O Círculo de Bakhtin, como ficou conhecido, possui seus estudos voltados à dialogia, calcada na relação entre enunciados e sujeitos. O foco dos estudos do Círculo se volta ao enunciado verbal, como é cunhado explicitamente em muitas de suas obras. Todavia, diversos termos, considerados concepções teóricas voltadas à filosofia da linguagem bakhtiniana, advêm de outros campos e são abordadas de maneira metaforizada pelos estudiosos da área, ainda que tais conceitos também possam ser tomados como pistas que abrem possibilidades de pesquisa teórico-analítica para universos musicais e imagéticos. A proposta deste projeto é refletir sobre a pertinência da Análise Dialógica do Discurso (ADD) como aporte teórico-analítico de enunciados verbo-voco-visuais. O objetivo é discutir a pertinência teórico-metodológica da abordagem bakhtiniana para análise de discursos estéticos constituídos por semioses sincréticas, verbais ou não-verbais. A justificativa se pauta na contribuição para os estudos da área, uma vez que a pesquisa enfocará como termos advindos de outros campos (como voz, entonação, polifonia, entre outros, por exemplo, típicos do universo musical) são tomados pelos componentes do Círculo como metáforas para o estudo da linguagem e, ao mesmo tempo, também abrem possibilidades de análises de enunciados musicais e visuais, ainda que o Círculo não tenha se voltado especificamente a tais materialidades discursivas. Acredita-se que os resultados contribuirão para uma abordagem contemporânea dos estudos bakhtinianos. Metodologicamente, este projeto pretende examinar, a partir da concepção dialógica – conceito filosófico nodal do Círculo, a partir de e com o qual as demais noções bakhtinianas se interrelacionam, são concebidas e trabalhadas – , a organização dos elementos verbais, vocais e visuais de enunciados de diversos gêneros estéticos (ainda que a ênfase seja dada à canção, esta pesquisa também pretende se voltar a outros gêneros, tais como literatura, música, videoclipe, teatro, cinema, artes plásticas, dança, propaganda, seriado, embalagens, novela, entre outros) e ainda voltar-se à produção, circulação e recepção dos enunciados no âmbito da esfera cultural. Partir-se-á de um estudo com base nos conceitos de enunciado, arquitetônica, sujeito, gênero e intergenericidade, esfera de atividade, estética, ética, cultura, signo ideológico, autoria, estilo, cronotopia e exotopia. A hipótese é a de que os estudos da linguagem desenvolvidos pelo Círculo possuem um método (o dialético-dialógico) pertinente para a realização de análises de enunciados verbo-voco-visuais, cada vez mais presentes na contemporaneidade, nas mais diferentes esferas.



Pesquisa do Triênio - 2011/2013
A constituição intergenérica da canção: reflexões sobre diálogo, gênero e arquitetônica sob a égide do Círculo Bakhtin, Medvedev, Volochinov.
Luciane de Paula, 2012
Este projeto se propõe a pesquisar, como indica o seu título, a constituição da canção como gênero que se compõe no entremeio de dois outros gêneros distintos (a poesia e a música), ao incorporar características de ambos de maneira peculiar, típica dessa intersecção, logo, nem poesia nem música, mas um outro gênero: a canção. Entende-se, nesse projeto, a concepção de gênero tal qual a concebe o Círculo de Bakhtin, Volochinov e Medvedev, ou seja, pelo envolvimento de aspectos linguísticos e translinguísticos que se relacionam com dispositivos das esferas de atividades (a inserção sócio-histórica da linguagem) e dos sujeitos. Esta pesquisa examina, a partir da concepção dialógica (conceito filosófico nodal do Círculo de Bakhtin com o qual as demais noções bakhtinianas se interrelacionam) como é concebida e trabalhada, a partir da solicitação advinda dos corpora de análise, a organização dos elementos linguísticos e translinguísticos do gênero canção e as maneiras como esse gênero se relaciona com outros (como a poesia, a música, o videoclipe, o show, o encarte de um álbum ou DVD, o teatro, o cinema, as artes plásticas, a propaganda e a novela, por exemplo). Para alcançar o objetivo proposto, parte-se de uma proposta de estudo da intergenericidade com base nos conceitos de arquitetônica, signo ideológico, sujeito, gêneros do discurso, estética, cronotopia e exotopia. Este projeto se justifica por colaborar com os estudos dos gêneros discursivos a partir da pesquisa da canção, vista como gênero composto por elementos verbais e não-verbais, e, mais especificamente, pelo diálogo entre gêneros distintos, postos em movimento em sua produção, circulação e recepção. A hipótese é a de que a canção se constitui como (inter)gênero, uma vez que, em sua arquitetônica, incorpora parte das características linguísticas e translinguísticas de outros gêneros ao mesmo tempo em que se compõe como gênero e também é incorporado em parte por outros gêneros discursivos (Pesquisa financiada pela UNESP).






Pós-Doutorado
A imagem do som: a recepção de canções brasileiras no Brasil e na França em perspectiva bakhtiniana.
Luciane de Paula, 2012
Este projeto pretende analisar a peculiaridade da recepção de canções brasileiras no Brasil e na França do ponto de vista da consideração desse gênero como manifestação artística que constrói imagens do país, com vistas a verificar que imagem de Brasil é construída na França mediante a recepção das canções brasileiras executadas majoritariamente naquele país e que imagem de Brasil é construída aqui a partir das canções brasileiras de maior sucesso. Nos termos da perspectiva teórico-analítica do Círculo de Bakhtin (considerando mais especificamente as noções de dialogismo, gênero, estética, exotopia e esfera – de produção, circulação e recepção), compreende-se a canção como gênero vivo, vida e arte, marcado pelo sincretismo melodia-letra e pelo entrelaçamento poesia e prosa. Nesse sentido, a canção é sui generis porque nasce como gênero primário e se constitui em gênero secundário, mas só adquire sentido em sua execução, como se quisesse voltar a ser um discurso primário (ou criar esse "efeito de sentido"). Isso só é possível porque a canção tem como particularidade, em sua constituição como gênero discursivo, nascer e viver na esfera cotidiana, em movimento, de forma dialógica. A necessidade de um estágio pós-doutoral fora do país baseia-se na necessidade de submeter ao exame o "excedente de visão" do outro, ou seja, ter contato direto com, ao menos, parte do público que recebe e constitui certa imagem de Brasil a partir da escuta e da contemplação de canções brasileiras, configurada nas leituras originais e releituras contemporâneas da bossa nova.Nossa hipótese, fundada num primeiro levantamento informal feito junto a franceses que ouvem música brasileira na França, é a de que, de maneira aparentemente contraditória, o Brasil tem constituída uma imagem de si como lugar de contenção se julgado pelo tipo de canção brasileira mais ouvido na França (a bossa nova), ao mesmo tempo em que, de modo tenso, em embate, a imagem do Brasil representada nas canções mais executadas aqui é a de um país do excesso. Essa aparente contradição pode revelar tanto uma ambivalência na auto-imagem do país como um confronto com o outro que desvela aspectos do país aqui ignorados, uma visão do outro mostrando ao eu o que ele não consegue perceber sobre si. Considerado o Brasil um país musical, que tem na canção um dos pontos altos de seu conjunto de “produtos” estéticos de exportação de sua cultura, estudar o processo de constituição de uma imagem de Brasil nos termos da recepção dos tipos de canções brasileiras mais ouvidas na França em contraste com a imagem produzida aqui a partir das canções de sucesso tem, como justificativa última, o fato de uma pesquisa com essas bases e objetivos poder contribuir para a compreensão de como valores culturais produzidos pelo e no Brasil vêm, tanto a partir de sua visão “interna” como da visão de um outro (França), na esfera de manifestação do gênero canção.







Doutorado
O SLA Funk de Fernanda Abreu
Luciane de Paula, 2007
Este trabalho versa sobre o funk carioca, encarado como manifestação do hip hop contemporâneo. Para compreender esse movimento, propõe-se a analisar as letras do SLA Funk de Fernanda Abreu (FA) por meio da isotopia da busca por um pertencimento. Revelam-se, no desenvolvimento dessa procura, três componentes: o baile, caracterizado como “rito dionisíaco”; a “antropofagia”; e a metalinguagem. Os cronótopos do encontro e do carnaval, bem como a intertextualidade, compõem as canções de FA e caracterizam a relação sujeito-espaço-tempo nelas existente. Para atingir seu objetivo, a pesquisa fundamenta-se, principalmente, nas noções bakhtinianas de diálogo, carnavalização e cronótopo. Os resultados mostram que o tema de constituição das canções analisadas é o prazer realizado nos “bailes da pesada”. Os sujeitos das canções de FA tentam explicitar, metalingüisticamente, o caráter carnavalesco do baile funk. No universo do hip hop carioca das canções de FA, o corpo aparece retratado como fonte de poder que constitui as mais diversas relações entre os sujeitos. As SLAs representam a cultura do funk por manterem, em seus enunciados, um elo entre discurso e “realidade”, ao retratarem o baile e seu culto à diversão e ao prazer. Este, adquirido por meio do movimento (suingue) do corpo que dança, canta e encanta. No embalo dos ouvidos e dos movimentos dos corpos, as canções acabam por sustentar e promover um universo da cultura funk: um mundo composto pela liberação do prazer carnal. Assim, as canções de FA levam a conhecer o universo do funk carioca por manifestarem, em seus enunciados, um modo de ser e de sentir.